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O que você precisa saber sobre pesquisas eleitorais

  • Foto do escritor: Tais Bahov
    Tais Bahov
  • 23 de jul. de 2022
  • 4 min de leitura

As eleições deste ano estão chegando e com essa proximidade, é cada vez mais frequente a divulgação de pesquisas eleitorais. P

ara entender melhor essas divulgações, o que as pesquisas mostram e como interpretá-las corretamente, conversamos com Marcia Cavallari, CEO do IPEC.


Márcia é formada em estatística, mestre em ciência política e atua com pesquisa de opinião pública há quase 40 anos. Praticamente todos eles à frente da área de pesquisa eleitoral do antigo IBOPE.


A seguir, os principais trechos dessa conversa, que pode ser ouvida na íntegra no Spotify.





Por que divulgar resultado de pesquisa eleitoral?

“Em uma democracia, quanto mais informações o eleitor tem, mais condições de decidir o seu voto. E a pesquisa é uma informação a mais num conjunto de informações de uma eleição. Ela permite que o eleitor conheça como a opinião pública pensa em relação a determinado tema.


Pesquisa influencia o resultado da eleição?

“Se a pesquisa influenciasse dessa forma que as pessoas pensam, quando a gente divulgasse uma pesquisa, quem está na frente estaria sempre na frente, não ia ter mudança, porque a pesquisa está exercendo uma influencia. E não é isso que a gente vê que as pessoas fazem. Se fosse assim, as pesquisas nunca errariam. E o que a gente vê são mudanças que ocorrem de última hora. A opinião pública é dinâmica e ela responde aos estímulos que recebe da própria campanha. No horário eleitoral gratuito, nas conversas com amigos, nas redes sociais, nos debates, nas notícias da mídia sobre um candidato ou outro. A pesquisa é uma informação a mais que o eleitor pode querer usar ou não. Se ele decidir usar, ele usa de uma forma que pra ele é estratégica. Ele pode olhar o resultado e voltar em quem está em segundo porque não quer o primeiro. Ou votar no candidato que defende aquilo em que ele acredita. Outros podem não estar muito entusiasmados, ver que o voto não vai fazer diferença e votar branco ou nulo. Quer dizer, o eleitor pode usar a informação ou não, da maneira que achar mais conveniente.”


Pesquisa influencia a comunicação das campanhas?

“Sim porque impacta no espaço que a mídia dá para cada uma das candidaturas, no ânimo da militância do partido.”


Toda campanha usa pesquisa?

“Sim porque quando uma pesquisa é divulgada, os resultados ficam disponíveis para todos. É uma forma dos partidos menores terem acesso `a informação. Mas, quando um partido compra uma pesquisa, ela não é para saber quem está na frente. Ela tem um objetivo mais estratégico, no sentido de estruturar plano de governo, testar material de campanha, discurso, alianças ou coligações, avaliar a imagem dos candidatos com atributos de qualidades e defeitos. E quando há ameaça de proibição de divulgação de pesquisa, essa proibição não impacta nesse tipo de pesquisa, que continuará sendo feita.”


Como checar se uma pesquisa divulgada é verdadeira (e não fake news)?

“Primeiro é preciso saber se aquilo é uma pesquisa ou uma enquete. A enquete não tem representatividade do eleitorado como um todo, porque pressupõe auto seleção dos entrevistados. Por outro lado, amostragem pressupõe critérios científicos para seleção das pessoas que respondem à pesquisa, de forma que elas representem, ali, o eleitor na mesma proporção que eles existem no universo. Esse cuidado garante que uma amostra é um retrato fiel do universo pesquisado.


A segunda coisa é verificar se essa pesquisa ou resultado está registrado no site do TSE. Nos anos eleitorais, a partir de 1º de janeiro todas as pesquisas que serão divulgadas devem ser registradas nesse site. E esse registro diz quem é o contratante, quanto custou a pesquisa, qual é o questionário, qual é a amostragem, quais são os critérios de controle da amostra. Isso dá transparência para o processo. Então, por exemplo, se você recebe uma pesquisa no WhatsApp falando que é atribuída a determinado instituto, é possível checar.


Quem paga pelas pesquisas eleitorais?

“No geral, entidades que queiram divulgar, normalmente associações de classe, os próprios partidos políticos, instituições financeiras e grandes veículos de comunicação”


E quanto custa uma pesquisa eleitoral para divulgação?

“Pesquisa nacional custa caro. Um entrevistador tem que sair de um lugar para o outro, dormir, comer, voltar. Você tem que pagar o salário do entrevistador, a estadia, a verificação (porque pelo menos 20% das entrevistas feitas por cada entrevistador são checadas). E também depende do tamanho do questionário. Em média, um questionário nacional custa R$ 150. Então, uma pesquisa com 2 mil entrevistas custa em torno de R$ 300 mil.

Estamos muito longe de fazer pesquisa eleitoral online?

“Sim porque nas pesquisas online ainda não temos pleno acesso às pessoas. De 25% a 30% das pessoas não acessam a internet.


Como você vê a influência das redes sociais na eleição deste ano?

“As pessoas declaram que as redes são uma fonte de informação para tomada de decisão, mas ao mesmo tempo, com várias fake news, aumenta a preocupação em verificar se a notícia é verdadeira. O problema são os grupos fechados. Mandar uma mensagem de campanha para 200 mil pessoas e ninguém tem acesso a isso, não tem como monitorar. Isso pode ter um efeito que a gente desconhece. A gente faz um controle se a pessoa recebeu alguma mensagem, mas a gente não sabe qual. A pesquisa vai contando a história da eleição e a gente vai vendo as mudanças ao longo do caminho até a reta final, porque os eleitores decidem o voto cada vez mais tarde. Ficam esperando se não vai haver uma denúncia contra algum candidato, se o candidato vai se sair bem no último debate, que normalmente ocorre às vésperas da eleição. Então o que ele declara para a pesquisa é uma intenção de voto. Não quer dizer que ele não vai mudar no dia seguinte. E a gente observa as mudanças, mas não consegue saber o quanto dessas mudanças veio da rede social ou de um grupo de whatsapp.


A TV perdeu importância?

“A TV continua sendo a principal fonte de informação. Mesmo porque as pessoas checam as informações na TV. E o horário eleitoral gratuito não perde importância. O que a gente vê é que as pessoas se interessam pela primeira semana, quando elas começam a ter informações de todos os candidatos ao mesmo tempo. E na última semana, que é um fechamento desse interesse, quando ela tem que tomar decisão.


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